Indígenas Zoró identificam atividades de garimpo ilegal em seu território
Os indígenas Zoró identificaram a presença de garimpeiros ilegais em seu território, alertando para a ameaça que essa atividade representa ao meio ambiente, aos recursos naturais e à segurança de sua comunidade.
12/9/20243 min read


A Terra Indígena (TI) Zoró enfrenta, desde o início deste mês, uma nova ameaça com a presença de garimpeiros em busca de ouro e diamantes em seus territórios. Essa situação tem causado grande preocupação às lideranças do povo zoró, que já lidam com a invasão de madeireiros. A informação foi compartilhada com a Agência Brasil pelo líder Alexandre Xiwekalikit Zoró, presidente da Associação do Povo Indígena Zoró (Apiz).
Apesar de ser um problema recente, os zoró pangyjej já relatam danos significativos ao meio ambiente. Entre as consequências apontadas estão a destruição da vegetação e a contaminação das fontes de água. Além disso, há indícios da instalação de maquinários pelos invasores dentro do território.
Localizada no município de Rondolândia (MT), a TI Zoró abriga uma população indígena que, desde o primeiro contato oficial nos anos 1970, foi estimada em cerca de 800 a 1.000 pessoas, segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Atualmente, vivem ali aproximadamente 700 pessoas distribuídas em 32 aldeias.
"Temos feito denúncias, mas, até agora, nada foi resolvido", declarou o líder. Ele explicou que as ocorrências já foram comunicadas à coordenação regional da Funai, ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e ao governo do Mato Grosso, mas sem avanços significativos. "Não sofremos violência física, mas a presença dessas pessoas traz muitos problemas para o território. Caminhoneiros que carregam madeira, por exemplo, jogam cigarro e acabam provocando incêndios na terra indígena", lamenta.
Os garimpeiros começaram a chegar no início de dezembro, mas Alexandre Xiwekalikit diz que ainda não é possível precisar o número exato de invasores. Outro desafio enfrentado pela comunidade é o aliciamento de alguns zoró pangyjej pelos invasores, que oferecem pequenas quantias de dinheiro em troca de colaboração. Segundo o líder, atualmente "sete ou oito parentes" estabeleceram vínculos com os invasores, divididos entre madeireiros e garimpeiros.
Apesar disso, as lideranças têm se empenhado em reaproximar os zoró cooptados pelos invasores. "Conversamos muito com esses parentes através da associação e do cacique. Fizemos várias reuniões e tentamos mostrar que as propostas financeiras não valem a pena. Buscamos alternativas legais para que eles possam ter uma renda sustentável, porque, no fundo, o que os levou a isso foi a necessidade de dinheiro", explica Alexandre.
A história do povo zoró é marcada por sucessivas invasões. Em 1961, a inauguração da Rodovia Cuiabá-Porto Velho facilitou o avanço de agropecuárias e posseiros sobre seu território. Hoje, uma das principais preocupações das lideranças é o impacto cultural e social causado pelas associações com os invasores. Muitos zoró aliciados retornam à comunidade apenas quando o dinheiro recebido acaba, trazendo consigo problemas como rompimento de laços familiares, frequentes idas a casas noturnas e a perda gradual de valores tradicionais.
Para mitigar o problema, a comunidade tentou implementar projetos de sustentabilidade, mas os esforços não tiveram o impacto esperado. "Neste ano, buscamos, por meio da associação, desenvolver um projeto sustentável. No entanto, ao fim do ano, ficou claro que não conseguimos avançar, e muitos voltaram a ouvir os invasores", lamenta Alexandre. Ele reforça que a Funai foi acionada para ajudar a conter os invasores, enquanto ainda são poucos, mas que a solução depende agora de ações mais efetivas dos órgãos competentes. "Fizemos tudo o que podíamos. Agora é com eles", conclui.
A Agência Brasil tentou contato com a Funai, o Ibama, o Ministério dos Povos Indígenas e o governo do Mato Grosso, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.