Indígenas Zoró: Livro é Lançado para Preservar as Memórias dos Anciãos

No seguinte Post você vera como foi o lançamento do Livro "Zoro Antes de ver o Branco" apresentação do livro feita por os Autores Ligia Neiva & Pandewerup Zoro

12/23/20244 min read

Os dois volumes da obra "Zoró: Antes de Ver o Branco - Jalaj Ikinie Ãbaka" foram lançados nos dias 6 e 11 de dezembro nas aldeias Duadjurej, Anguj Tapua, Tamali Syn e Zawaxurej, situadas na Terra Indígena Zoró. A publicação é bilíngue, com textos em português e na língua Zoró.

De autoria de Panderewup Zoró, uma liderança da comunidade, e Ligia Neiva, servidora da Funai, os livros trazem relatos ricos e emocionantes dos anciãos Zoró. As narrativas abordam a vida da comunidade antes do contato com a sociedade externa e durante esse processo de interação, proporcionando um registro valioso para a preservação da memória cultural e histórica do povo Zoró.

De acordo com os autores, o objetivo das obras é preservar as memórias dos anciãos Zoró em sua língua materna e em português, garantindo que esse patrimônio cultural seja transmitido às gerações atuais e futuras. Os livros serão prioritariamente distribuídos às escolas das aldeias, fortalecendo a educação e a identidade cultural da comunidade.

A origem do projeto
A ideia para o livro nasceu do desejo de Pãderewup, líder Zoró, que enfrentou uma situação desafiadora ainda muito jovem. Com apenas 15 anos, ele precisou deixar sua aldeia, aprender rapidamente a se comunicar em Língua Portuguesa e buscar ajuda para o seu povo em meio a uma situação de extrema urgência. “Não havia mais como esperar”, relembra Ligia Neiva, coautora da obra.

“Seu povo acabara de ter contato com a sociedade envolvente, ainda profundamente impactado por pandemias devastadoras de sarampo, tuberculose e gripe. Mesmo fragilizado, ele precisou encontrar forças para lutar contra os invasores de suas terras”, relata Lígia Neiva.

Ela destaca que os embates foram árduos e exigiram coragem, união e resistência. Povos indígenas como Gavião, Arara, Suruí, Zoró e Cinta Larga uniram esforços para enfrentar os invasores. Essa mobilização resultou na retirada dos ocupantes ilegais e culminou na demarcação oficial da Terra Indígena Zoró, assegurada pelo Decreto nº 265, de 29 de outubro de 1991.

Iniciativa cultural
O registro das memórias dos anciãos foi possível graças à Chamada de Projetos Culturais de 2021, promovida pelo Museu/Funai. Essa iniciativa apoia projetos desenvolvidos pelos próprios povos indígenas em colaboração com unidades descentralizadas da Funai.

Os materiais coletados durante o projeto deram origem ao livro e a uma série de vídeos, disponíveis no canal do Museu no YouTube (@museudoindiorj), ampliando o alcance e a valorização das tradições indígenas.

Sobre os autores
Pãderewup Zoró nasceu em 8 de outubro de 1970, na Terra Indígena Zoró, localizada no município de Rondolândia, Mato Grosso. Filho de Panzylyp e Xipitut Zoró, do clã Zabeawj, ele perdeu o pai ainda na infância, vítima de uma doença grave e desconhecida pelos Zoró. Desde jovem, Pãderewup destacou-se como líder, empenhando-se na defesa e preservação de sua cultura e território.

Ligia Neiva, servidora da Funai, atuou como coautora, contribuindo com sua experiência e compromisso com os direitos indígenas para transformar os relatos em uma obra literária de grande relevância histórica e cultural.

Após a perda do pai, Pãderewup Zoró foi criado pelo tio materno, Papaju Zoró, que assumiu o papel de cuidar e educar não apenas Pãderewup, mas também seus cinco irmãos. A família, liderada pela viúva Panzylyp, seguiu Papaju em suas jornadas, que ocorreram enquanto ainda eram nômades. Para se protegerem das doenças que assolavam seu povo, passaram a viver na aldeia Bubyrej, onde recebiam cuidados e medicamentos fornecidos pela Funai.

Lígia Neiva: trajetória e conexão com os povos indígenas
Lígia Neiva nasceu na vila de Tabajara, distrito de Inhapim, Minas Gerais, filha de Custódio Neiva e Aldina Maria Neiva. Sua infância e adolescência foram vividas em Coronel Fabriciano, também em Minas Gerais.

Em janeiro de 1984, durante uma visita à sua tia materna na cidade de Cacoal, Rondônia, Lígia teve seu primeiro contato com povos indígenas das etnias Suruí e Cinta Larga. Na época, ela reencontrou uma antiga conterrânea, Ceí, que trabalhava na Fundação Nacional do Índio (Funai).

Esse encontro despertou em Lígia o interesse em conhecer mais sobre os povos indígenas. Motivada por essa experiência, ela aceitou, no dia 1º de março de 1984, o convite da amiga para integrar o quadro de funcionários da Funai. Lígia iniciou sua trajetória como professora na frente de contato Serra Morena, localizada no Parque Indígena do Aripuanã, na região de Juína, Mato Grosso.

Essa oportunidade marcou o início de sua dedicação aos povos indígenas, consolidando uma parceria que viria a se refletir em projetos importantes como o livro "Zoró: Antes de Ver o Branco".