Povos do Amazonas Realizam Intercâmbio Cultural na Terra Indígena Zoró
O post irá abordar a participação de povos indígenas do Amazonas em um intercâmbio cultural realizado na Terra Indígena Zoró, localizada em Rondolândia (MT). A publicação destacará os objetivos da iniciativa, como o fortalecimento de tradições, a troca de conhecimentos sobre sustentabilidade, preservação ambiental e práticas culturais.
12/9/20244 min read


Eles conheceram o trabalho dos Zoró com a castanha-do-Brasil
Por: Carla Ninos/OPAN
Lábrea, AM – No final de julho, a Terra Indígena Zoró, localizada no noroeste do Mato Grosso, tornou-se o cenário de um intercâmbio rico em experiências sobre o manejo da castanha-do-Brasil e práticas de organização comunitária. Os anfitriões Zoró receberam os povos Apurinã, Jamamadi e Paumari, vindos da região do Médio Purus, no Amazonas, onde a Operação Amazônia Nativa (OPAN) desenvolve o Projeto Raízes do Purus, patrocinado pela Petrobras.
O povo Apurinã, da Terra Indígena Caititu, vem trabalhando nos últimos três anos na elaboração de um diagnóstico socioeconômico sobre a produção da castanha. Esse estudo serve como base para estruturar uma organização coletiva em torno do produto. Entre os participantes, havia grande expectativa em conhecer de perto o modelo adotado pelo povo Zoró, que tem o manejo da castanha como principal atividade econômica. Ao longo da última década, os Zoró consolidaram uma experiência de sucesso nas boas práticas de produção e comercialização.
Para os Apurinã, o intercâmbio foi uma fonte de inspiração para aprimorar a extração da castanha e adotar práticas agroecológicas em suas terras. “Foi uma oportunidade incrível para discutir e refletir sobre os caminhos que o povo Apurinã pode trilhar, tendo como referência o povo Zoró. Eles conseguiram superar desafios relacionados à organização interna, acesso ao mercado e políticas públicas”, explicou Diogo Giroto, indigenista da OPAN.
O evento contou com dois dias de atividades realizadas na aldeia Escola. No primeiro dia, os participantes se apresentaram, compartilhando um pouco sobre seus povos e experiências. Um destaque foi a apresentação dos Paumari, que descreveram suas ações de manejo pesqueiro do pirarucu, impressionando os Zoró pela abundância de água, pelo tamanho do peixe e pela eficácia de seu trabalho.
No segundo dia, as atividades foram voltadas para a prática no castanhal. Técnicas de extração da amêndoa foram discutidas e demonstradas por cada povo. Os participantes trocaram conhecimentos sobre métodos de abertura, limpeza, armazenamento e transporte da castanha. O cacique Davi Zoró contextualizou a trajetória de aprendizado e adoção de boas práticas pelos Zoró, demonstrando todas as etapas do processo, desde a coleta até o transporte. Ele destacou a importância do cuidado na manipulação da amêndoa, que aumenta significativamente o valor do produto. “Esse zelo com a qualidade é o que torna o produto diferenciado”, explicou Magno dos Santos, indigenista da OPAN.
Além dessas trocas de conhecimentos, os indígenas também compartilharam aspectos de suas vivências no uso dos recursos da floresta. Os Paumari demonstraram suas técnicas de coleta do cacho de açaí, enquanto os Apurinã apresentaram o processo de confecção do panaco, uma bolsa trançada com palha, utilizada para transportar diversos itens, como castanhas, mandioca e outros produtos. “Foi fascinante observar cada grupo demonstrando suas habilidades e confeccionando seus cestos de palha, cada um com seu estilo único e técnica própria,” destacou Diogo Giroto.


“Fiquei impressionado com o trabalho dos Zoró no castanhal. Agora quero tentar aproveitar melhor as castanhas na nossa terra, que estão se perdendo. Também achei interessante ver como eles fazem os cestos de palha, porque nós, Jamamadi, só utilizamos cipó titica para isso”, comentou admirado Chaga Jamamadi, da aldeia São Francisco.
No último dia de atividades, o grupo se deslocou até o município de Ji-Paraná, em Rondônia, cidade próxima à Terra Indígena Zoró, para conhecer a estrutura da Associação do Povo Indígena Zoró (APIZ). Lá, eles viram como as castanhas são armazenadas e beneficiadas antes da comercialização. A organização dos Zoró chamou a atenção dos visitantes, tanto pela forma como se relacionam dentro da aldeia quanto pelos processos estruturados de produção e gestão da castanha-do-Brasil.
Os Zoró conectam suas estruturas organizacionais à educação e à formação comunitária, assegurando a gestão eficiente de seu território, produção e associação. Jovens da aldeia são preparados para assumir papéis dentro do corpo institucional da APIZ, sempre com o acompanhamento e orientação dos mais velhos. “Os Zoró entendem que, para garantir a continuidade desse processo, não é possível centralizar tudo em uma única pessoa. É necessário discutir coletivamente, mantendo seu modelo tradicional e respeitando os limites da cultura. Por isso, eles formam os jovens, para que possam dominar os processos e dar continuidade ao trabalho”, analisou Diogo Giroto.


Para Gerson Galvão Gomes, representante da Cooperativa Mista Agroextrativista Sardinha (Coopmas), de Lábrea, no Médio Purus, a realidade de sua região apresenta semelhanças com a dos Zoró, mas carece da mesma organização e união. “Vou levar essa experiência para compartilhar com os colegas. O que mais me chamou atenção foi a sinceridade que existe entre os Zoró e o respeito que os jovens têm pelos mais velhos. Esses valores são fundamentais para uma organização bem-sucedida”, destacou.
Nilson Paumari, da aldeia Capanã, na Terra Indígena Paumari do Lago Manissuã, também ficou impressionado com o modelo de organização dos Zoró. “Vou levar para meu povo o exemplo de união e organização deles, que envolve todos – mulheres, crianças, adultos e anciãos. Cada pessoa tem uma função dentro das atividades. Seria incrível se aqueles que duvidam da eficácia desse modelo pudessem vivenciar uma experiência como esta”, refletiu.