Projeto Man Gap fortalece cadeia da castanha-da-Amazônia em territórios indígenas de MT

Com apoio do Programa REM MT, o Projeto Man Gap fortalece a cadeia da castanha-da-Amazônia em territórios indígenas, promovendo geração de renda, segurança alimentar e valorização cultural, além de garantir a proteção das florestas e a autonomia das comunidades Zoró e Apiaká-Kayabi.

6/3/20253 min read

O Projeto Man Gap, apoiado pelo Programa REM MT, alcançou uma importante conquista: a aprovação de três projetos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), totalizando um investimento de R$ 4,3 milhões. Um desses projetos já está em fase de conclusão e os outros dois seguem em processo de contratação. Os recursos permitirão o início da comercialização da castanha beneficiada, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), com destino a escolas da rede pública de Juara (MT).

Valorização da sociobiodiversidade

O coordenador do projeto, Paulo César Nunes, explica que, historicamente, os povos indígenas da região colhiam a castanha-da-Amazônia e a vendiam in natura para atravessadores, enfrentando condições comerciais injustas. Práticas como o escambo e o adiantamento com juros abusivos mantinham as comunidades em ciclos de dívida e exploração. O Projeto Man Gap foi criado justamente para romper essa lógica, estruturando a cadeia da castanha com práticas sustentáveis, valorização cultural e pagamento justo.

“O objetivo central é transformar uma realidade de endividamento em um ciclo virtuoso de prosperidade, dignidade e orgulho. Com o aumento no valor pago pela castanha, mais famílias indígenas se engajam na coleta, inclusive em áreas mais distantes, o que também contribui para a vigilância do território”, afirma Paulo.

Fomento à autonomia e segurança alimentar

Uma das frentes do projeto é a gestão do Fundo Rotativo Solidário Indígena, também apoiado pelo Programa REM MT. Esse fundo garante capital de giro para o beneficiamento e comercialização da castanha dentro dos próprios territórios, fortalecendo a autonomia das comunidades e a liderança indígena.

Graças a essa estruturação, os projetos aprovados junto à Conab viabilizarão a compra de 54 toneladas de castanha beneficiada até o final de 2025, que serão destinadas à alimentação de cerca de 54 mil pessoas em situação de vulnerabilidade nos municípios de Juara e Rondolândia.

Além disso, o projeto estimula a participação de mulheres e jovens, contribuindo para a formação de novas lideranças. Estudantes da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), por exemplo, já desenvolvem trabalhos acadêmicos sobre a cadeia da castanha na Terra Indígena Apiaká-Kayabi.

A castanha também volta à mesa das próprias famílias indígenas, promovendo alimentação saudável e reforçando a segurança alimentar. As escolas indígenas que recebem o produto se tornam espaços de valorização da cultura local e de conscientização das novas gerações sobre a importância da floresta em pé e do trabalho de seus antepassados.

Inauguração da fábrica de beneficiamento

Com o apoio do Programa REM MT desde 2022, o projeto inaugurou, em 25 de abril de 2024, a fábrica de beneficiamento de castanha-da-Amazônia da Terra Indígena Zoró, localizada na aldeia Guwa Puxurej, em Rondolândia. O evento contou com representantes de 32 aldeias Zoró e autoridades da SEMA, SEAF, SETASC e Conab.

Segundo Paulo Nunes, o REM MT foi essencial para o fortalecimento da cadeia produtiva da castanha nos dois territórios. “O programa reconheceu o valor do trabalho tradicional das comunidades e sua importância na conservação dos recursos naturais. A valorização veio de dentro, a partir das próprias pessoas”, destaca.

Com seus resultados concretos, o Projeto Man Gap se firma como uma referência na valorização da sociobiodiversidade e geração de renda em áreas indígenas. O apoio contínuo do REM MT fortalece a autonomia das comunidades e amplia o acesso ao mercado institucional, garantindo renda com dignidade e preservação cultural.

Sobre o Programa REM MT

O REM MT é uma iniciativa financiada pelos governos da Alemanha e Reino Unido, por meio do Banco Alemão de Desenvolvimento (KfW), como reconhecimento ao Estado de Mato Grosso pelos resultados na redução do desmatamento.

Na primeira fase, o programa apoiou 157 projetos, beneficiando 144 organizações sociais — incluindo 114 associações e cooperativas — em todos os biomas do estado: Amazônia, Cerrado e Pantanal.

Entre os principais resultados estão:

  • 603 aldeias indígenas atendidas;

  • 43 povos indígenas beneficiados;

  • 107 municípios contemplados;

  • Mais de 35 mil pessoas impactadas;

  • 160 mil hectares de desmatamento evitado (2021-2022).

O Projeto Man Gap foi reconhecido como o segundo melhor classificado entre os projetos com valores acima de R$ 750 mil em Mato Grosso. Ele é fruto do esforço coletivo dos povos Apiaká, Kayabi, Munduruku e Zoró, com apoio de uma ampla rede de parceiros, incluindo a Prefeitura de Juara, SEDUC, SESAU, CRAS e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).